Você já sentiu um esgotamento muito intenso, uma carga de estresse tão elevada que teve vontade de jogar tudo para o alto? Geralmente, quando isso ocorre em um contexto de trabalho, a pessoa acometida tem dois caminhos: buscar formas de mudar o quadro em que está por si mesma ou com auxílio externo, ou desenvolver a Síndrome de Burnout.
“Estresse crônico que não foi administrado com sucesso” – essa foi a frase utilizada para definição da doença, em um documento divulgado pela Organização Mundial da Saúde, para classificar a Síndrome de Burnout como um problema exclusivamente relacionado ao trabalho.
Sabemos que não é de hoje que o estresse e esgotamento extremos em decorrência de más condições de trabalho minam o potencial do trabalhador de desenvolver suas funções. No entanto, somente a partir do dia 01 de janeiro de 2022 que a doença passou a ser classificada pela OMS como uma doença do trabalho, trazendo consequências para o empregador.
As consequências do reconhecimento da Síndrome do Burnout como doença do trabalho são, em regra:
1 – reconhecimento de estabilidade no trabalho de 12 meses;
2 – afastamento pelo INSS, mas com continuidade no pagamento do FGTS mensal;
3 – possibilidade de reconhecimento de indenização por danos morais e até mesmo materiais (a depender do caso) na Justiça do Trabalho.
Portanto, é fundamental que o empregador auxilie no cuidado da saúde mental dos seus colaboradores não apenas medindo o grau de produtividade, mas também com a análise da preocupação do colaborador em atingir os resultados esperados pela empresa.
Assim, é preciso que haja um plano de ação nas empresas, com uma equipe engajada nos cuidados relacionados à saúde e segurança dos colaboradores, pois essas medidas evitam exposição da empresa (tanto exposição trabalhista, quanto exposição relacionada à imagem), como engajam, mantém e atraem talentos, tornando-a mais produtiva e, consequentemente, mais lucrativa. A relação é sem dúvida de Ganha / Ganha.
Burnout vem do inglês e significa “esgotamento”. A Síndrome de Burnout, ao se manifestar no colaborador, pode provocar danos à sua saúde tanto física, como psicológica, em decorrência das más condições de trabalho. Destaca-se que a Síndrome de Burnout não se trata apenas da falta de estrutura ocupacional adequada, mas sim de um ambiente onde há problemas que envolvam a saúde mental do colaborador, como: bullying, assédio moral, cobranças extremas, pedidos de entregas inalcançáveis, longas jornadas de trabalho, falta de reconhecimento, e tudo o que de alguma forma caracteriza um ambiente desagradável para se trabalhar. Em casos extremos, a doença pode levar o trabalhador à morte por doenças cardíacas e derrames e, até mesmo, ao suicídio.
O mundo está altamente estressado e cansado, no entanto, é a mulher quem sofre mais. Uma análise feita pela consultoria McKinsey & Company e pela Organização LeanIN com mais de 65 mil pessoas entrevistadas, revelou que de 423 empresas nos Estados Unidos e Canadá, 42% das mulheres sofrem com os sintomas da Síndrome de Burnout, enquanto entre os homens esta taxa foi de 35%.
O gráfico mais chocante é o que vem a seguir. De acordo com SMA-BR, International Stress Management Association, o Brasil é o segundo país com o maior número de trabalhadores afetados pela Burnout. Na referida pesquisa, dos 100 milhões de brasileiros, 30% sofrem da doença. Além disso, o país emplaca sendo o maior em número de casos com pessoas com ansiedade, e o quinto em pessoas com depressão.
A Síndrome do Burnout se trata de uma questão antiga, mas somente agora foi acendida a luz sobre esse problema e isto tem ligação direta à pandemia do coronavírus. É que, desde o surgimento do vírus, foi percebido um agravamento diante do cenário global de problemas psicológicos relacionados ao trabalho e, de acordo com pesquisas, isto é uma tendência a continuar.
Em um contexto hipotético de pós-pandemia, as pessoas estão propensas a se dedicarem de tal maneira ao trabalho por medo de perderem seus empregos, que serão capazes de ignorar seus limites para entregarem os resultados esperados pelas empresas. Então, se antes o problema existia em um cenário já conhecido, a partir de agora, ele passa a ligar um botão de atenção a mais, que deverá ser atendido por todos os cargos de chefia.
A melhor maneira de evitar que isso aconteça com um dos colaboradores da empresa é investir na prevenção e tornar a questão algo a ser discutido e analisado todos os dias por toda a equipe envolvida. O que não pode ser feito, de forma alguma, é ignorar o problema ou torná-lo pouco relevante, trazendo soluções paliativas e ineficazes.
O que fazer para prevenir casos de Burnout em sua empresa:
1 – Primeiro passo é aceitar que a doença se desenvolve no ambiente de trabalho;
2 – Promover o assunto dentro do ambiente de trabalho, fomentar reuniões periódicas (diárias, semanais; quinzenais)
3 – Oferecer todo o suporte necessário para que os gestores fiquem atentos ao comportamento dos empregados e consiga perceber os sintomas logo no início;
4 – Definir plano de ação em parceria com toda equipe, e se possível, com o auxílio de profissionais da área de saúde mental para ajudar nos processos das ações preventivas, que precisam ser feitas de modo contundente;
5 – Promover rodas de conversa, espaços de conhecimento ou até mesmo, “happy hours” com toda a equipe para que sejam construídas válvulas de escape, de conversas informais, que podem servir como geração de vínculos entre os profissionais;
6 – Respeitar os limites de cada indivíduo;
7 – Valorizar pequenas conquistas de cada um.
O primeiro passo é se dispor a iniciar uma conversa a fim de levar o empregado a aceitar um tratamento e a ajuda necessária. O segundo é ampliar a visão para enxergar em que momento e por quais motivos levaram a pessoa a adoecer. Não será uma tarefa fácil diagnosticar o foco do problema, uma vez que sempre há mais envolvidos, mas é fundamental o esforço. Entender que o ambiente de trabalho pode ser nocivo à saúde do colaborador e tomar medidas preventivas para deixar o ambiente agradável para todos também pode evitar complicações diante de um processo judicial.
Estamos em um momento onde é importante que todos estejam atentos aos problemas gerados por um ambiente de trabalho que não preza pela segurança da saúde mental de seus colaboradores. E como começar?
1 – Abrir espaço para a fala e a escuta de qualidade dentro da empresa;
2 – Abrir canais de comunicação e discussões/fóruns a respeito do tema;
3 – Promover conversas com os colaboradores para mensurar o nível de satisfação de cada um no local de trabalho;
4 – Promover eventos e palestras;
5 – Criar Políticas governamentais direcionadas à essa questão
As sugestões acima são exemplos de como o empregador pode demonstrar seu interesse na proteção da saúde dos colaboradores e diminuir riscos trabalhistas ao comprovar práticas da empresa nesse sentido.
Abrir as portas da comunicação para a entrada de conversas com o empregado é sem dúvida, o melhor caminho para a prevenção. Então, vamos lá e dê início agora a este bate-papo.
Fonte: por Yara Leal Girasole – especialista em direito do trabalho