O crédito para pessoa jurídica (PJ) está em desaceleração no Brasil. Segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC), as concessões de recursos para empresas registraram queda de 12,5% entre janeiro e março, em relação aos três meses anteriores. Na comparação entre o primeiro trimestre de 2023 com igual período do ano passado, a retração foi de 2,6%. Esses percentuais fundamentam a perspectiva traçada para 2023, que deve sofrer uma redução, em termos reais (já deflacionada a inflação), de 10% nas concessões de crédito empresarial, segundo projeções da Tendências Consultoria. É um movimento diferente do observado nos últimos anos, que foram de crescimento. Em 2022, houve uma expansão real de 10% na concessão de crédito às empresas. Este ano, além da dificuldade para a obtenção de empréstimos, o custo será maior. De acordo com as informações do BC, em março, a taxa média de juros para o crédito PJ com recursos livres (que não incluem o crédito subsidiado pelos bancos de fomento) foi de 24% ao ano. No entanto, uma leitura mais atenta das informações evidencia a disparidade de custos quando analisadas as diferentes linhas de financiamento. Para as empresas, as opções mais onerosas são o cheque especial, o cartão de crédito rotativo e o cartão de crédito parcelado. Nessas categorias, a taxa média de juros, em março, chegou a 327%, 142% e 131% ao ano, respectivamente. Os recursos direcionados, modalidade de crédito que abrange as concessões subsidiadas, apresentam uma taxa média de juros de 14% ao ano. Nesse grupo, entram as linhas oferecidas, por exemplo, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). É importante lembrar que as taxas praticadas também variam em função do tomador de crédito. Questões como avaliação de risco, objetivo do empréstimo e oferta de garantias influenciam no custo financeiro da operação.
Cenário turbulento:
A desaceleração do crédito é um reflexo do contexto atual. Entre os fatores que impactam o ambiente econômico, o avanço recente da taxa básica de juros (Selic) é um componente relevante. A taxa esteve em 2% ao ano de agosto de 2020 a março de 2021. Depois disso, subiu constantemente até chegar aos 13,75% ao ano, em agosto de 2022. Aproveitando-se do baixo custo dos empréstimos quando a Selic esteve em 2% ao ano, as empresas aumentaram consideravelmente o seu endividamento, inclusive para poder enfrentar as restrições da pandemia. O aumento da taxa de juros para conter a inflação pegou as empresas nessa fase de maior endividamento e o impacto foi sentido, pois a alta da Selic encareceu as dívidas já contraídas. Se a atividade econômica estivesse crescendo, seria possível contornar essas dificuldades, pois o incremento das vendas e da geração de caixa traria os recursos necessários para compensar o crescimento das despesas financeiras, mas não é isso que está acontecendo. Conforme dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgados pelo jornal Valor Econômico, o Brasil teve um desempenho econômico muito fraco durante a pandemia da Covid-19, no período entre 2020 e 2022. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro aumentou 4,5% no período. Em uma relação de 191 países, o Brasil está na 97ª posição e foi superado por vizinhos sul-americanos, como Colômbia (10,7%), Chile (7,4%) e Argentina (4,6%). A projeção para o PIB de 2023 é de alta de 1%, com melhor desempenho em setores específicos, como o agronegócio. Quanto à taxa de juros, a perspectiva é de que, a partir do segundo semestre deste ano, ocorra a retração no percentual, mas a queda será lenta.
Outros fatores que prejudicam o acesso ao crédito são o aumento da inadimplência por parte das empresas e a quebra de confiança. E, num cenário turbulento como o atual, as empresas endividadas terão mais dificuldade para refinanciar contratos e rolar as dívidas. Soluções financeiras para pequenos negócios As linhas de crédito que o BNDES oferece para micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) abrangem estímulos para projetos de investimento, aquisição de máquinas e equipamentos, recursos para as necessidades do dia a dia (capital de giro) e concessão de garantias. São modalidades como BNDES Finame, BNDES Crédito Pequenas Empresas, Cartão BNDES, BNDES Automático, BNDES Microcrédito, BNDES Crédito Rural e os Programas Agrícolas do Governo Federal. No caso dos produtos de garantia, destacam-se BNDES FGI, FGIPEAC e FGEnergia. Cada uma dessas modalidades possui objetivos e condições específicos. Por exemplo, as linhas do BNDES Finame contemplam o financiamento de máquinas e equipamentos. Já o BNDES Crédito Pequenas Empresas atende às demandas cotidianas das organizações com capital de giro. O apoio do BNDES às MPMEs é realizado de forma indireta e automática, por meio de mais de 70 instituições financeiras parceiras, incluindo agências de fomento, bancos de desenvolvimento regionais, bancos de montadoras, cooperativas de crédito, bancos cooperativos, bancos privados e bancos públicos. Pelo fato de o banco não possuir agências bancárias, os interessados devem acessar o Canal MPME do BNDES ou procurar diretamente os agentes financeiros credenciados, que podem ser consultados no site da instituição.